Programa especial
Para ministros, secretários de estado
E outros grandes senhores
Que ao primeiro desiquilíbrio
Sacrificam-se e vão para administradores!
LC
O drama nos títulos dos jornais. Uma comédia pegada de fio a pavio.
É a ambição máxima
De todos os bons filhos
Que os sustentem até aos cinquenta
Sem lhes levantarem sarilhos:
Mesada farta,pequeno almoço na cama,
Universidade eterna, tinto na taberna(está na moda)
Namoradas de curta duração, carinhinhos da mamã
Caminha toda a manhã, noites bem passadas
Em borga bebida e acalorada
E crescer de forma sustentada.
É a vida perfeita
Amor aos papás
Seja menina ou rapaz!
LC
Não concordo.
Há lá melhor coisa do que os paraísos
E não falo dos celestes que ninguém os viu
Falo dos terrenos, esses sim, esperançosos
Que são a alegria dos criminosos.
Proibir é sempre uma má opção
E pode levar à ruína as Ilhas Caimão.
O mundo faz-se com alegria
E não com desgraças e ais
Venham de lá os paraísos
Todos os outros mais os fiscais.
Eu também gostava de ter um ou mais,
Dizem que há umas Ilhas Virgens
Que recebem bem sem olhar a quem,
Bem hajam, amém!
Tanto quanto se sabe
É mesmo caso único
Um Cordeiro tão forte
Que os lobos quando o veem
Pôem o rabo entre as pernas
E teem um medo de morte.
A natureza produz estas surpresas
Fruto de estranhos cruzamentos
Um animal que era para ser bom
E saiu dos mais violentos.
Não tem lã suave nem doce balir
Tem pêlo eriçado e é de fugir.
Não se metam com ele
Gosta de farmácias
Mora em Cascais
E não digo mais!
LC
Aquilo na Madeira é um caso sério
Têm os árbitros todos comprados
E quando a malta entra em campo
Já os golos dele estão encomendados.
O homem não dá ponto sem nó
Nem deixa os créditos por mãos alheias;
Humilha o Cavaco, toureia o Sócrates,
Dá migalhas aos árbitros e fica com as mãos cheias.
E para acabar com a gozação
Caga-se pró partido e prá oposição.
Mas todo o político responsável, bom de vista
Sorri-lhe subserviente e chama-lhe estadista.
É justo!
LC
É justo
Toda a gente sabe desde sempre
Que os detectives têm por missão
Espiar as vidas públicas
E de preferência de gente comum
Sem nada para esconder.
Este fugiu à regra, ao código de conduta
Vai ter que se defender do promotor
Que para descobrir tudo
Lá terá que espiar a vida privada do acusado.
Não é um caso bem gozado?
LC
É o meu caso:
Sou sério da ponta dos cabelos
Até às unhas dos pés.
Mas é claro que tenho emoções
E de vez em quando passo-me
E disparo uns palavrões.
Também com esta vida “filha de puta”
Só se fizéssemos todos como o Sócrates
E nos embebedásemos de cicuta.
O filósofo ia gostar
Ficava sem ninguém para aturar.
Cabrão, isso é o que ele queria!
LC
Um azar nunca vem só;
Já não tinha um olho e a vida era difícil
Agora sem a sinalética a ajudar
A coisa só pode piorar.
A questão do olho ainda se arranjava
Encomendava-se aos cubanos
Que nesta coisa de tratar dos olhos
Desde que haja dólares, são muito humanos.
Mas prá sinalética,
Mesmo sendo marxistas
Falta-lhes dialética.
Vá-se lá saber porquê!
LC
Gabo-te a coragem
Confessares em público os teus problemas
É a psicanálise de grupo a funcionar;
Como tu alguns milhares
Têm o mesmo problema para exorcisar.
Na foto não transparece nada
Se calhar as nódoas negras
“Calharam” todas à tua namorada.
Mas tens valor na mesma
Nem toda a gente tem coragem
De confessar que erra
E ser malandro mas assumido
É que está na berra!
Parceiros inseparáveis.
O meu todo só se sente bem
É entre as partes
Não quer mesmo outra coisa
Diz que é lá o seu habitat natural.
O meu todo diz que é artista
Gosta de pintar a manta
E é especialista na aguarela
Pintando belos quadros
Especialmente nas partes dela.
Depois volta a casa
E idealiza outras pinturas noutras partes
Que é esta a relação do meu todo artista
Com a beleza das artes!
Eu nem abria processo
Nem inquiria testemunhas
Aplicava-lhes sem remissão
Prisão perpétua ou injecção letal
E acabavam-se os radares
Que só espalham o mal.
A mim já me penalizaram várias vezes
Sem provas materiais
Sob suspeitas captadas no ar
E para não ir preso, fiquei teso.
Para estes instigadores do mal
Só memo injecção letal.
Eu voto a favor!
LC
Já a alma dá cabo do corpo
Sempre com receios e recriminações
Não deixa o corpo libertar-se
E impõe-lhe mais e mais inibições.
Se a alma não tivesse medo do medo
O corpo era livre e feliz
E fazia o que lhe desse na real gana
Mas a alma acagaçada por tudo e por nada
Faz papel de tímida e puritana.
E assim continuará se ninguém inverter a tendência
Mesmo que para tal se recorra à violência.
Era bem feito faltarem-lhe todos ao respeito!
É mesmo grosseria;
Já não se diz assim:
Eu comi esta, aquela anda a comer aquele.
Comer fica guardado para outros pratos
Na linguagem decente
Exigem-se outros tratos:
Faz-se amor, curte-se, trocam-se favores
Pratica-se sexo oral.
Comer é grosseria do passado
O sexo é agora civilizado
Há educação sexual nas escolas
Tudo muito bem ilustrado
E mesmo a malta mais novinha
Sabe que fazer o felatio
Não é chupar um gelado!
LCNão é de ninguém
Que à noite a liberdade é total
Não há donos nem poder
Venha lá o mais pintado
Uma noite sem proprietários
É uma alegria para os libertários
Que percorrem o seu caminho
Directos ao bem universal
Com milhões no culto do carinho
E outros milhões no do carnal
E é tudo muito natural!